Somos
lançados no mundo, e isso se dá por uma faticidade. Somos incutidos neste
plano, espaço, lugar que agora temos como familiar, sem escolher por aqui estar,
e nos sentimos como pertencentes a ele com o decorrer do tempo.
Não optamos por estar situados no
universo, na localização em que nascemos e pertencente à família pela qual
fomos criados, porém a partir do momento que aqui estamos nos tornamos
totalmente livres para escolher e fazer de nós mesmos o que quisermos. Apenas não
se escolhe onde e como se nasce, mas todo o restante da vida, o desenrolar
dela, ou seja, o destino, se têm plena e total responsabilidade e liberdade
para modificá-lo.
Logo ao se arrojar no mundo a pessoa a
pessoa é nome muito menos o que vai vestir e comer nos primeiros momentos,
somente com o passar dos anos começa a ter uma consciência reflexiva de que
pode preferir algo, todavia, acostuma-se com o outro lhe dizendo e mostrando o
que deve ou não fazer e, por inércia, tende a perpetuar esta relação, afinal é
tão mais fácil o outro escolher e arcar com as responsabilidades desta escolha,
sozinho.
É
comum encontrar pessoas que atribuem ao seu companheiro, ao mundo, a Deus e
sabe mais lá a quem seus infortúnios e com este movimento de tirar de si a
responsabilidade se coloca em uma posição de vítima das circunstâncias da vida,
negando a sua total e plena obrigação de responder pelas próprias ações. Adotando esta postura de mero sujeito sofredor
de um mundo predador a pessoa não percebe que ela mesma é o carrasco de sua
vida, se impossibilitando de se lançar sobre coisas mais gratificantes.
“Está ruim e eu não tenho nada a ver com
isto, é culpa do outro” é um pensamento comum. Se a vida não está boa é porque
de alguma forma eu contribui para que não estivesse, sempre há algo a fazer
para que não seja mais do jeito que é. Vimos quando nos projetamos, nos
lançamos, existimos, atuamos sobre o mundo.
Viver é um processo totalmente atuante,
não se tem como esquivar-se de influir sobre o próprio viver. Existem etapas,
momentos, processos pelos quais se passa que são sim dolorosos, mas que não impedem
que haja a ressignificação de uma nova história e possibilite um viés de
possibilidades constantemente. Fazendo uma alusão a Foucault “Devemos não
somente nos defender, mas também nos afirmar, e nos afirmar não somente
enquanto identidades, mas enquanto força criativa”. Cada um pode chegar até o
lugar onde ele se permitir chegar.
Ninguém, por mais que queira, tem o
poder de nos tirar a liberdade, o poder, a obrigação de escolher cada passo na
vida. A liberdade é uma condenação que não nos deixa a opção de não escolher, não
há como fugirmos da nossa própria responsabilidade perante a vida que vivemos.
Somos resultados de nossas escolhas e se não estamos satisfeitos com este
resultado significa que estas escolhas não foram pertinentes. Não há tempo pra
lástima em nossa existência, mas há sim tempo para se lançar sobre novas
possibilidades.
Katree Zuanazzi
Artigo publicado no Jornal de Notícias impresso “A Folha de Saltinho” no dia 12-11-2011.
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