A
construção da estrutura psíquica é pautada em fatores imaginários, simbólicos,
além do real. Isto posto, fica indiscutível o fato de que as fantasias muito
contribuem para a constituição do sujeito como pessoa. A integração da personalidade
sempre será permeada pelo eu, que diz respeito à realidade e juntamente pelas ideias de ideal do eu, que normalmente é o eu que se almeja, se quer, se
intenciona ser.
O
‘eu real’ corresponde a o que o indivíduo realmente é, com qualidades e imperfeições.
Esta noção realista do eu produz prazer. O indivíduo vivencia expectativas
limitadas à sua capacidade e se esforça para atingir seus ideais. Já o ‘eu
ideal’, vive em função de ideias improváveis de ser alcançadas, pois tem uma visão
irreal de si mesmo, diz respeito a como o sujeito é em sua fantasia, como
gostaria de ser e como luta para ser. Só que este ‘eu ideal’ implica em
perfeição, a qual a pessoa nunca consegue atingir.
Vive-se intensa atividade mental em busca de ser o que não se é. Idealiza-se
um postulado de perfeição e as pessoas se gastam em busca de conquistá-lo. As metas de vida são cada vez mais elevadas causando frustração
diante da impossibilidade de atingi-las. O sujeito cria uma expectativa tão
distante do real que passa a exigir demais de si mesmo, se idealiza tanto que nem
ele mesmo consegue corresponder a este ser que idealizou. Desta
forma, nunca está bom e nada é suficiente, pois o patamar fantasiado é
exacerbadamente incongruente com as possibilidades da pessoa no momento.
Ter
projetos é extremamente saudável e necessário para progredir em todos os
âmbitos da existência, o patológico é quando se foge da realidade. Quem
idealiza fica em busca de algo que para ele existe em algum lugar, em alguma
coisa ou em alguma pessoa. Deixa-se de viver as possibilidades reais do aqui e
agora, projetando a felicidade em pessoas ou coisas. Tem quem se sente tão
mal consigo mesmo que não dá conta, não suporta a vida real, daí cria uma imagem
ideal de ser. Mas este ideal fica apenas em nível de pensamento, fantasia, não
é possível se tornar concreto.
Quanto
mais é buscada a perfeição, maior será o número de exigências e
consequentemente aumentará a probabilidade de os planos não saírem exatamente
como o planejado. É aquela típica história: “eu queria tanto que quando consegui
perdeu a graça, porque não era exatamente como eu pensei que seria”. Quem tenta
modificar o tempo todo o outro e a si mesmo só se frustra, vive cada
vez mais em conflito.
Tem gente que nem consegue mais
distinguir o que é ela mesma e o que é sintético. Tudo é comprado, o peito que
não se têm, o cabelo que não se têm, o prazer que não se têm. A felicidade está
sendo posta como algo exterior às pessoas, e não no eu real delas. A idealização
do eu é enaltecida através da “compras em massa de felicidade”. Hoje, a
felicidade esta no carro que as pessoas têm, na casa que elas moram, na roupa
que elas usam, nas marcas que elas exibem, ou seja, no que elas podem ostentar ao invés do que são.
A necessidade de tratamento se faz a
partir do momento que o sofrimento proporcionado pela insatisfação com o que se
é (eu real) torna-se tão grande que, mesmo diante de inúmeros métodos, técnicas,
cirurgias, compras, mudanças (eu ideal), a frustração não se sacia ou aumenta, tornando a pessoa dependente de “coisas” para ter alegria. Caso
chegue a este ponto, a psicoterapia é indispensável.
Psicóloga Katree
Zuanazzi
CRP 08/17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 10-03-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)
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