Sentimento
avassalador que nos alcança em momentos mais inusitados e inesperados. Desde uma
leve brisa de necessidade de proteger nossa “propriedade”, até fúrias
impetuosas em relação à mesma. Ínfima, razoável ou exacerbadamente, com ou sem
motivos concretos, não há quem não tenha experienciado de alguma maneira o desconforto
do ciúme.
É uma emoção natural e inevitável, quando se trata de alguém que se ama, no entanto, pode apresentar-se de maneira patológica dependendo da forma que se manifesta. Ou seja, sentir o ciúme é normal, o que, muitas vezes, se torna patológico são as atitudes tomadas em relação ao ciúme sentido.
É uma emoção natural e inevitável, quando se trata de alguém que se ama, no entanto, pode apresentar-se de maneira patológica dependendo da forma que se manifesta. Ou seja, sentir o ciúme é normal, o que, muitas vezes, se torna patológico são as atitudes tomadas em relação ao ciúme sentido.
A nomenclatura Síndrome de Otelo é
baseada na peça “Otelo” que Shakespeare escreveu em 1603. A trama base da história
se da com Otelo (Capitão mercenário), recentemente casado com Desdêmona, que é
convencido por seu subordinado Iago (soldado que aspira promoção), por motivos
torpes e vingança, de que sua esposa lhe é infiel. Impulsionado pela fúria da
suposta traição, Otelo assassina sua esposa e logo recebe a notícia de que tudo
não passava de uma conspiração, que Desdêmona, na verdade, sempre lhe fora
fiel. Mas já era tarde demais, sua esposa jazia ao chão. A Síndrome de Otelo então
refere-se ao ciúme infundado e hostil, ou melhor, doentio.
Hoje em dia, não são tantas as
incidências de ciúmes que tenham chegado a este ponto. Mas existem! Algumas
relatadas na mídia, outras não. A questão é que, independente de atos incitados
por ciúmes provocarem morte física ou não, eles (os atos) sempre representarão
algum tipo de morte na relação: morte do respeito, dos sonhos, dos projetos, da
confiança, da consideração, da imagem bela que se tem sobre a pessoa amada e
até mesmo a morte do amor. Alguém que tenha um companheiro que explode constantemente por ciúmes, dificilmente vai conseguir admirá-lo por muito tempo,
e só se ama quem se admira.
O “sentir” ciúme é saudável, é sinal
de que se importa com a pessoa, mas quando ele começa a representar algum tipo
de violência entre o casal, ou seja, começa a manifestar-se por atos, é sinal
de que as coisas não estão bem. Lembrando que violência não é apenas física,
que seria espancar o companheiro, mas também a psicológica, que é a que mais
ocorre, no entanto mascaradamente. Xingar, gritar, insultar, insinuar que o
companheiro é infiel (sem motivos concretos), vigiar excessivamente, controlar
a vida do parceiro, destratar, ameaçar, manipular, impedir que este tenha vida
social, fazer pressão, impor proibições, e até mesmo se fazer de vitima (o
ciumento acredita que é vítima) são exemplos de violência psicológica.
Uma pessoa que seja submetida a este
tipo de tratamento violento começa a ter uma inversão de sentimento em relação
ao companheiro. Se antes (dos surtos de ciúmes) gostava de estar junto,
sentia-se seguro, confortável, feliz com o relacionamento, passa gradativamente
a sentir-se insatisfeito. O sentimento tão belo que ostentava vai aos poucos se
dissipando e dando espaço a sentimentos negativos e emergem então pensamentos
de que talvez, sem essa pessoa ciumenta do lado, a vida seria melhor. É neste
ponto que a ideia de divórcio começa a ecoar na mente, como a única alternativa
de se livrar daquela angústia toda que vem sofrendo.
Ao mesmo tempo, a própria pessoa que
é a ciumenta sofre demasiadamente também. Primeiro, ela acredita fielmente
estar sendo traída, mesmo sem ter provas reais (enfatizo que estou me referindo
a pessoas ciumentas sem terem sido traídas no relacionamento atual) e, qualquer
eventualidade, por mais banal, já remete a ideia de uma suposta traição. Às
vezes, por ter vivenciado traições em outros relacionamentos, ou então, pela
simples fantasia de estar perdendo o companheiro já fica irado e toma atitudes
impensadas e coléricas.
Grande parte dos divórcios foi
motivada por ciúmes infundados causadores de contendas. Se um relacionamento
chegou a este ponto já está mais do que na hora de sentar, conversar sobre o
assunto, propor meios que viabilizem uma resolução do conflito e, se necessário,
solicitar a ajuda de um profissional para tanto. Ninguém aguenta muito tempo
viver com este sofrimento sem ter a saúde afetada.
Psicóloga Katree
Zuanazzi
CRP 08/17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 24-11-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)
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