O amor perfeito é vivido em sua
impossibilidade de concretude, é existente apenas em nível de pensamento,
fantasia, tudo no campo do imaginário. Na prática depara-se com o desmascarar
da ilusão, com a frigidez da plenitude, com o fim de um começo que nunca
existiu. O amor na realidade nunca será sublime quanto na fantasia.
Quando nos deparamos com a possibilidade
de amor é arquitetado, consciente ou inconscientemente, toda uma estrutura
mental a respeito deste sujeito que é um potencial ser pra ser amado, bem como,
para todas circunstâncias que permeiam esta relação. Em meio à emergência de
uma infinidade de fantasias cercando este sujeito, uma expectativa passa a
existir que confronta quando o real se faz presente.
Quando contatamos realmente o objeto
amado, o descobrimos, o desvelamos, destrói-se juntamente toda e qualquer
possibilidade de amor pleno. Alguém disse que só se ama um desconhecido. O
desconhecido é a nossa perfeição projetada em um alguém real e incógnito, que
por esse fator se torna possível atribuí-la todas as virtudes que julgarmos
necessárias. O desconhecido é criado por nossa ideia de ideal, mas quando a
pessoa deixa de ser desconhecido se desmancha toda a construção outrora
estabelecida.
O conhecido é um ser independente, que
atua além do que queremos ou desejamos, que tem vontade própria, que tem
defeitos além do que pensamos, que critica, opina, tem costumes, manias,
maneiras subjetivas de ser, e isso destrói o amor. O amor é massacrado com o
conhecimento. O amor perfeito, pleno, fatídico só existe no plano da fantasia.
Ao deparar-se com a realidade, ele involuntariamente se dissolve dando espaço as
imperfeições do sujeito amado. Só resta chorar o amor que se vai, elaborar o
luto e se lançar a um novo processo semelhante, ou aceitar este amor
imperfeito.
O amor imperfeito não é menos amor por
ser mais angustiante. É tão intenso e verdadeiro quanto o amor no plano da
fantasia, apenas mais complicado de se vivenciar. Talvez por isso tanta gente
tenha preferido manter relacionamentos virtuais. Como é difícil lidar com o
defeito dos outros e vê-los agir sem saber o porquê optaram por tais
comportamentos, ir de encontro as nossas vontades, questionar nossas verdades,
nos travar, confrontar, mostrar outras formas de existir, nos impressionar, nos
deixar confusos, atônitos, sem saber lidar com o enigma que é este outro, mas
não é impossível de estruturar-se como relação estável. Aliás, é totalmente
possível! Qualquer pessoa com maturidade é capaz de fazer esta transferência da
fantasia para a realidade e se adaptar a ela, mesmo que com sofrimento e
lástima. Isto é o amor verdadeiro.
As pessoas querem uma coisa que não
existe e vivem frustradas por não conseguir alcançá-la. Mas a frustração
apenas ocorre porque foram criadas expectativas exorbitantemente elevadas, em
que não há o mínimo de chance de serem condizentes com a realidade. Quem não
fantasia com “contos de fadas” mirabolantes não corre o risco de sofrer tanto
com a realidade que, querendo ou não, lutando ou não, jamais será livre de
infortúnios.
Psicóloga katree Zuanazzi
CRP 08/170170
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 01-06-2013Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)
Nenhum comentário:
Postar um comentário