A ânsia por se sentir dono de sí é um
desejo pertencente a todas as pessoas. Ser autosuficiente e se colocar no
domínio da própria vida promove certa sensação de segurança, mantém a
autoestima mais elevada e é sim saudável. Este desejo de estar no controle, de
nivelar e dominar os próprios caminhos incita as pessoas a adotarem posturas
que a reafirmem como sujeitos livres. Mas o que seria realmente esta tal de liberdade?
É estarrecedor a forma como as pessoas
confundem a palavra liberdade com libertinagem, sendo que a diferença entre ambas
é discrepante. Enquanto a liberdade diz respeito ao direito do sujeito de se
posicionar conforme ele desejar, desde que não se oponha ao direito do outro a
libertinagem é totalmente o oposto, faz referência a devassidão, a falta de
limites, tanto com o outro, quanto consigo mesmo. “Ser-se livre não é fazermos
aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode”, esta afirmação de Jean-Paul
Sartre esclarece nossa circunstância de ser livre.
A liberdade é inerente ao ser humano, é
uma condição, cada um é livre e pronto! Mas o que fazer com esta liberdade
compreende um campo bem mais complexo. A palavra liberdade traz ao pensamento a
ideia de infinito, mas engana, porque ela é limitada. A liberdade de cada um
vai de encontro com a liberdade que o outro também tem e aí depara-se com o
limite.
O ser que se apropria da sua liberdade é
aquele que escolhe para si, sabe o que quer e faz um planejamento para
conseguir o que deseja, não dissimula seus valores e nem se utiliza das pessoas
ao seu redor como bode expiatório. Só que às vezes, a pessoa aspira tanto não
ser alienada que, quando tenta assumir sua condição de livre adota expressões
não muito pertinentes e sensatas, transformando, desta forma, sua vida livre em
libertina. O que não percebem é que a libertinagem contém em si própria a
alienação.
Sim, porque o libertino não faz o que
ele quer, ele faz coisas para mostrar para o outro sua (suposta) potência, intenciona
evidenciar que faz o que tiver vontade, que se manda, mesmo que lá no fundo ele
não queira realmente fazer o que está fazendo, mas atua em função de quem e
para quem o enxerga, um tanto exibicionista. É o caso daquelas pessoas que são
“do contra” ou daquelas que fazem qualquer coisa pra se enturmar, mesmo que as
peripécias que tenha que cumprir vá contra seus valores pessoais. Desempenham
um papel muitas vezes prejudicial a si mesmo para se afirmar perante o outro,
pensando que a liberdade é ilimitada.
Enquanto a liberdade proporciona ao
sujeito a autenticidade, a libertinagem leva a reprodução inautêntica de
comportamentos alheios e incongruências. Isto posto, fica a pergunta: Será que
viver em função de se reafirmar como sujeito dotado de poder é ser livre ou,
será que é ter pouco domínio e clareza sobre quem se realmente é?
Katree Zuanazzi
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