Num estudo da evolução da personalidade
é impossível ignorar as ocorrências dos primeiros dias e horas da vida de uma
pessoa, bem como a responsabilidade que o cuidador exerce sobre este primeiro
momento. Certamente a mãe é a pessoa mais qualificada para desempenhar um papel
protetivo em relação ao filho no decorrer desta fase de vulnerabilidade e
dependência, que é a primeira infância, e propiciar um ambiente adequado para
que se desenvolvam as potencialidades deste.
Os pais, ou quem desempenha esta função,
têm uma inestimável contribuição na formação da identidade da criança. Esta se
constitui sobre dois aspectos: o temperamento, sendo a instância herdada
geneticamente, é a forma de manifestação dos afetos e; o caráter, que engloba
as características que são aprendidas na infância, vem significar noções de
certo e errado, bem e mal, ou seja, é a construção da ética e da moral, é algo
subjetivo, mas que foi ensinado por alguém.
São muitos os fatores que influenciam o
desenvolvimento humano (hereditariedade, crescimento orgânico, maturação
neurofisiológica), no entanto tem um fator que representa maior repercussão na
estruturação da personalidade, é o meio em que se está inserido. Em se tratando do mundo psicológico sabe-se que há uma
tendência inata ao crescimento que impulsiona o desenvolvimento físico e
mental. Entretanto este desenvolvimento não ocorrerá de forma adequada e plena se
não existirem condições suficientemente apropriadas para tanto.
A criança nasce com
nenhum registro e vai se constituindo como pessoa através do outro. Não
especificamente o outro de carne e osso, mas o outro de representação. O
imaginário é estruturado através do que os pais dizem dela. O que foi esperado
deste filho desde a gestação, as expectativas, o que é verbalizado a ele, são
fatores extremamente importantes porque a criança constrói em cima disto o
ideal do eu, aquilo que ela vai buscar ser no mundo quando crescer.
Os pais são o primeiro modelo que se
contata e a pessoa toma este como premissa na sua constituição. Um dos grandes
fracassos na criação de um filho é esperar que ele tenha características boas
sem fazer nada para isto acontecer, ou pior, fazendo exatamente o oposto. Se
uma criança cresce em um ambiente onde é depreciada, não tendo espaço para se
expressar, ouvindo adjetivos ruins sobre quem ela é (ex. você é feio, não sei a
quem puxou, é desobediente), é improvável que ela se torne sadia. É impossível
ser uma pessoa centrada sendo criada entre desvarios.
Os pais pensam que filho é algo pronto, que
nasceu já terminado, mas não é, é uma construção cotidiana. Por ser uma
construção é de inteira responsabilidade dos pais a “criatura” que os filhos se
tornaram. Cuidado com o que é dito a uma criança, a chance de ela tomar como
verdade isto é exorbitante.
Katree Zuanazzi
Artigo publicado no Jornal de Notícias impresso “A Folha de
Saltinho” no dia 06-08-2011.
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