domingo, 9 de dezembro de 2012

MULHERES FRAGILIZADAS: O ESTIGMA DA VIOLÊNCIA


A violência é concebida como um fenômeno que ocorre e se dissemina constantemente, implicando em relações de poder e dominação. Está sempre atrelada à questão de desigualdade, onde um lado frágil sofre abuso de outro mais apoderado. Independente sob a esfera a qual se manifesta repercute em prejuízo ocupacional em vários âmbitos da vida da pessoa.
A violência direcionada à mulher na contemporaneidade se consagrou como uma das principais causadoras de sofrimento físico e psicológico feminino, fato que compõe uma grave problemática de saúde pública, sendo que uma em cada quatro brasileiras já sofreu algum tipo de agressão por parte do parceiro.
O perfil mais comum das mulheres vitimizadas é assinalado por três características base: mulheres jovens, dependente financeiramente do companheiro e com filhos, o que não exclui a ocorrência com mulheres que não se enquadram nestas. Deve-se salientar que vêm ocorrendo por todo o mundo e entre vários tipos de pessoas, das mais variadas idades, classes sociais, religiões, etnia, grau de instrução e que é dentro de casa o local em que estas mulheres sofrem, é menos frequente ocorrer aos olhos de um público.
Existem, basicamente, cinco tipos de violência: A violência física, que é a mais perceptível por representar uma agressão corporal; Violência moral, muito mascarada por ser falsamente nomeada de “discussão” (digo falsamente porque discutir não é sinônimo de molestar por palavras), assinalada por ofensas, injúrias, insultos, uso de nomes pejorativos (vagabunda, puta, vadia...), detrimento moral, é o popularmente conhecido como xingamento; Violência psicológica, caracterizada por qualquer atitude do companheiro ou ex que represente sofrimento emocional para a mulher como ameaçar (geralmente de tirar os filhos), perseguir, vigiar, tentar controlar a vida da pessoa, chantagear, humilhar, ridicularizar, ou seja, tudo que limita o direito de ir e vir da mulher ou diminua sua autoestima; Violência sexual, que se refere a induzir por ameaça, coação, intimidação ou obrigar a mulher a participar de um ato sexual não desejado, isto ocorre muitas vezes com o marido sentenciando a mulher de que esta é um objeto e tem a obrigação de lhe fazer todos os desejos sexuais, mesmo que não queira e também engloba o ato de manipular ou forçar a relação sexual sem preservativo, não deixar a mulher tomar anticoncepcional ou fazê-la cometer aborto, ou seja, tudo o que anule os direitos sexuais da mulher; Por fim, a violência patrimonial, que significa danificar ou destruir objetos pessoais e bens materiais, como quebrar os móveis, o carro, atear fogo ou rasgar documentos ou instrumentos de trabalho, reter qualquer coisa que pertença a mulher como dinheiro, joias etc. Simplificando, tudo que represente algum tipo de prejuízo físico, psíquico ou emocional contra a mulher é caracterizado como violência.
Muito raro é um tipo de violência se manifestar sozinha, ela sempre vem acompanhada por outra, ou outras. Ás vezes, começa com uma “simples” agressão verbal e vai evoluindo, há vários casos relatados na mídia de violência contra mulher que chegou a ponto de um homicídio.
Frequentemente o homem que agride a mulher ainda tenta convencer a vítima de que ela é culpada pela violência que está sofrendo, que ele tem razão em agredi-la, que ela incitou isso, mas não é verdade! É apenas uma técnica de perpetuar a violência e se esquivar da responsabilidade pelas agressões.
Outra incidência comum é depois de agredir, o homem dar uma de arrependido com promessas e juras de que nunca mais na face da terra irá repetir este comportamento, que estava estressado, que não vai mais acontecer, que o perdoe pelo amor de Deus, mas quem faz uma vez tem uma enorme possibilidade de tornar a fazer.
Ninguém pode tomar uma decisão pela vítima, cabe a ela decidir romper com esse vínculo de violência ou continuar. Quer denunciar? Faça um Boletim de Ocorrência, denuncie-o e peça proteção da polícia, não tema as ameaças que ele esteja lhe fazendo. Só reclamar e não tomar nenhuma atitude não vai resolver, só irá aumentar a violência porque ele percebe que você está vulnerável ás ameaças e atos dele.
Dica: Se o homem lhe agrediu com tapas, puxão de cabelo ou outra forma que não tenha deixado marca no corpo, ao fazer o BO não peça para fazer de violência física, porque não haverá marcas para o corpo de delito, solicite contra a violência moral, pois será mais fácil penalizar o agressor.

Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 08-12-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

sábado, 8 de dezembro de 2012

SÍNDROME DE OTELO: QUANDO O CIÚME É DOENTIO


Sentimento avassalador que nos alcança em momentos mais inusitados e inesperados. Desde uma leve brisa de necessidade de proteger nossa “propriedade”, até fúrias impetuosas em relação à mesma. Ínfima, razoável ou exacerbadamente, com ou sem motivos concretos, não há quem não tenha experienciado de alguma maneira o desconforto do ciúme.  
      É uma emoção natural e inevitável, quando se trata de alguém que se ama, no entanto, pode apresentar-se de maneira patológica dependendo da forma que se manifesta. Ou seja, sentir o ciúme é normal, o que, muitas vezes, se torna patológico são as atitudes tomadas em relação ao ciúme sentido.
   A nomenclatura Síndrome de Otelo é baseada na peça “Otelo” que Shakespeare escreveu em 1603. A trama base da história se da com Otelo (Capitão mercenário), recentemente casado com Desdêmona, que é convencido por seu subordinado Iago (soldado que aspira promoção), por motivos torpes e vingança, de que sua esposa lhe é infiel. Impulsionado pela fúria da suposta traição, Otelo assassina sua esposa e logo recebe a notícia de que tudo não passava de uma conspiração, que Desdêmona, na verdade, sempre lhe fora fiel. Mas já era tarde demais, sua esposa jazia ao chão. A Síndrome de Otelo então refere-se ao ciúme infundado e hostil, ou melhor, doentio.
     Hoje em dia, não são tantas as incidências de ciúmes que tenham chegado a este ponto. Mas existem! Algumas relatadas na mídia, outras não. A questão é que, independente de atos incitados por ciúmes provocarem morte física ou não, eles (os atos) sempre representarão algum tipo de morte na relação: morte do respeito, dos sonhos, dos projetos, da confiança, da consideração, da imagem bela que se tem sobre a pessoa amada e até mesmo a morte do amor. Alguém que tenha um companheiro que explode constantemente por ciúmes, dificilmente vai conseguir admirá-lo por muito tempo, e só se ama quem se admira.
     O “sentir” ciúme é saudável, é sinal de que se importa com a pessoa, mas quando ele começa a representar algum tipo de violência entre o casal, ou seja, começa a manifestar-se por atos, é sinal de que as coisas não estão bem. Lembrando que violência não é apenas física, que seria espancar o companheiro, mas também a psicológica, que é a que mais ocorre, no entanto mascaradamente. Xingar, gritar, insultar, insinuar que o companheiro é infiel (sem motivos concretos), vigiar excessivamente, controlar a vida do parceiro, destratar, ameaçar, manipular, impedir que este tenha vida social, fazer pressão, impor proibições, e até mesmo se fazer de vitima (o ciumento acredita que é vítima) são exemplos de violência psicológica.
      Uma pessoa que seja submetida a este tipo de tratamento violento começa a ter uma inversão de sentimento em relação ao companheiro. Se antes (dos surtos de ciúmes) gostava de estar junto, sentia-se seguro, confortável, feliz com o relacionamento, passa gradativamente a sentir-se insatisfeito. O sentimento tão belo que ostentava vai aos poucos se dissipando e dando espaço a sentimentos negativos e emergem então pensamentos de que talvez, sem essa pessoa ciumenta do lado, a vida seria melhor. É neste ponto que a ideia de divórcio começa a ecoar na mente, como a única alternativa de se livrar daquela angústia toda que vem sofrendo.
     Ao mesmo tempo, a própria pessoa que é a ciumenta sofre demasiadamente também. Primeiro, ela acredita fielmente estar sendo traída, mesmo sem ter provas reais (enfatizo que estou me referindo a pessoas ciumentas sem terem sido traídas no relacionamento atual) e, qualquer eventualidade, por mais banal, já remete a ideia de uma suposta traição. Às vezes, por ter vivenciado traições em outros relacionamentos, ou então, pela simples fantasia de estar perdendo o companheiro já fica irado e toma atitudes impensadas e coléricas.
    Grande parte dos divórcios foi motivada por ciúmes infundados causadores de contendas. Se um relacionamento chegou a este ponto já está mais do que na hora de sentar, conversar sobre o assunto, propor meios que viabilizem uma resolução do conflito e, se necessário, solicitar a ajuda de um profissional para tanto. Ninguém aguenta muito tempo viver com este sofrimento sem ter a saúde afetada.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070

Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 24-11-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

QUEBRANDO OS MITOS DA HIPNOSE


Fenômeno permeado por um ar de misticismo, desperta a curiosidade do público que se depara com os famosos shows de hipnose de circo. Em frequentes programas de televisão e em alguns eventos fechados a exposição da hipnose é feita de uma maneira sensacionalista, fato que provoca em seus espectadores a estranha sensação de que os feitos extraordinários apresentados resultem de poderes sobrenaturais do hipnotista e que significarão submissão absoluta do sujeito hipnotizado.
Apesar de exposições serem uma boa maneira de difundir os benefícios da hipnose, por vezes estes métodos podem aparentar meio invasivos para quem não tem conhecimento a respeito do assunto e estabelecer ideias errôneas acerca do fenômeno. Faz-se necessário desarraigar crenças infundadas, desemaranhar conceitos e tornar claro o verdadeiro significado do poder da mente do ser humano.  
A ideia, sustentada por muita gente, de que a pessoa estando em hipnose ficará totalmente vulnerável e em total submissão ao hipnotizador não é verídica, aliás, não condiz nenhum pouco com a realidade. Não existe nenhuma possibilidade de alguém se apoderar da volição, da mente, do querer de outra pessoa.O sujeito jamais irá fazer algo que a moral dele condene estando em transe, ele só aceitará sugestões que não lhe apresentarem perigo algum.
Longe de ser sinônimo de magia, anormalidade, misticismo e dominação plena, o transe hipnótico faz parte do cotidiano natural de qualquer pessoa. Sendo um evento corriqueiro, trivial que vivenciamos frequentemente sem nos darmos conta disso. Os acontecimentos que são chamados popularmente de “sonhar acordado”, “sair do ar”, “falar sozinho”, “viajar na maionese” são exemplos de estados de transe. Sempre que estamos em um estado alterado de consciência podemos o assim denominar.
Não existe no mundo uma pessoa que consiga infligir o transe hipnótico em outra pessoa sem a autorização da mesma. Toda hipnose é uma autohipnose, ela só se faz possível por via da aceitação do sujeito. O hipnotizador é apenas um facilitador, alguém que sabe as técnicas adequadas para tanto e como fazer de uma maneira eficaz que proporcione benefícios para o sujeito que procura utilizar a programação da mente.
Há casos em que a pessoa já chega ao consultório em transe hipnótico porque vê na televisão e já faz o trabalho de autohipnose antes mesmo de chegar ao local. Isto demonstra que o processo de hipnose depende da pessoa em questão, porque o hipnotizador não tem nenhum poder sobrenatural, ele apenas tem os conhecimentos sobre os métodos, mas ninguém é hipnotizado se não permitir.
Com a imensidão de benefícios proporcionados por esta, sem implicar em sequer um efeito colateral, a hipnose ganha cada vez mais reconhecimento. Usada desde tempos primórdios com fins curativos, apesar de ser desvirtuada em alguns casos, não perdeu sua potencialidade no auxilio a tratamento e até mesmo sendo o próprio tratamento em questões de saúde física e mental.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08\17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 22-09-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

AUTOAJUDAR-SE: VOCÊ PODE!

Sou da opinião de que toda ajuda é uma autoajuda, porque nunca depende apenas do exterior, sem a parcela própria é impossível que uma ajuda seja estabelecida. As pessoas fazem coisas incríveis, muitas vezes consideradas impossíveis quando decidem o fazer. A capacidade humana de superar obstáculos já é vista em muitas vidas que mudaram drasticamente, mesmo que a pessoa que conquistou a vitória atribua isso à Deus ou deuses, à santos, à entidades ou seja lá o que for sua crença. O que não deixa dúvidas é que o ser humano, independente de sua credulidade, muitos mistérios têm ocultos acerca de sua força interior.
Estando no fundo do poço, tem quem se afunda e tem quem se salva. Cada um com seu histórico de vida e motivações para determinados fins. Se salvar é uma arte, qualquer um que pratique se torna um artista. Ninguém está condenado á vida que se tem, estamos condenados apenas a o que escolhemos para nossa vida.
Eu não posso pegar uma pessoa e resolver todos os problemas dela sem que ela nada faça. As pessoas criam esta expectativa em relação ao outro, como se este tivesse um poder sobrenatural sobre suas vidas, mas isso é irreal, a única pessoa que tem poder por sua vida é você mesmo. Não atribua suas responsabilidades a nada exterior a você. Tem gente que vai ao Médico com a ideia de que este simples ato vai curá-las, mas não. Se ela for á um Médico ele irá receitar fármacos, estipular comportamentos adequados para o tratamento e ela terá que seguir isso se quiser ser curada. O Médico vai apenas possibilitar meios para tanto, mas a quem cabe cumpri-los é única e exclusivamente uma pessoa, a que está com o problema de saúde.
Conseguir as coisas sem fazer esforço para tê-las é o desejo intrínseco de muita gente, mesmo que faça isso irreflexivamente, e é aí que a frustração entra, porque ninguém consegue nada sem esforço. Tudo o que desejamos depende de nosso esforço para ser adquirido. Um carro novo, um bom relacionamento familiar, um filho bem educado, um casamento estável, uma bela aparência física, o sucesso profissional, a saúde, o prestígio, ou seja lá mais o que for que uma pessoa pode desejar, só se tornará concreto se ela ter uma atitude ativa em relação a seus desejos.
O dito popular “cada um colhe o que planta” parece um tanto ríspido, mas expressa a verdade absoluta. Quem plantando um pé de manga fará dele nascer limão? Ninguém! É a trágica e feliz verdade. Trágica porque a responsabilidade pelos infortúnios da vida é muito pesada, mas feliz porque ela pode ser reestruturada a qualquer momento. Não sou da abordagem comportamentalista, mas também não posso negar que os comportamentos emitidos implicam em resultados.
O jogo da vida não é um jogo de sorte ou revés, é um jogo de estratégia. Não se deve ficar esperando que a vida vire um carta boa, isso consome teus dias e tua alegria. Cada um tem que arquitetar um plano, projeto, estratégia tendo um vista um resultado pretendido, só assim ele poderá ser alcançado. A vida não é estática, depende da sua permanente atuação e você pode modificar suas estratégias sempre que elas não estiverem dando certo como você queria.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08\17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 15-09-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

PSICANÁLISE: O PILAR DA PSICOLOGIA


      
É comum as pessoas se referirem à Psicanálise como se esta fosse a própria Psicologia, talvez pelo fato de a primeira tomar maior credibilidade após as contribuições de Sigmund Freud. Percebo, em minha experiência clínica, as pessoas já chegarem ao consultório dizendo que a irmã, a amiga, o vizinho, ou outra pessoa, a indicou procurar um “Psicanalista”, e já está lá no Psicólogo sem saber se o profissional em questão tem esta formação ou não. Há uma confusão nas áreas psi, que será esclarecida.      
Quando se fala em Freud, algumas pessoas leigas usando seu senso comum dizem que “é aquele Médico que criou a Psicologia”, mas não é exatamente desta maneira. Freud criou a Psicanálise que, não podemos negar que deu uma evolução ao campo de estudo da psique, mas que não “é” a Psicologia e sim uma vertente “da” Psicologia.       
A Psicologia é uma ciência que tem como objeto de estudo os fenômenos psíquicos e o comportamento, existente desde a Grécia antiga, mas só foi estabelecida enquanto ciência no século XIX a partir do Médico       
Wilhelm Wundt em Leipzig na Alemanha. No entanto, a Psicanálise, posteriormente gerada pelo Médico Neurologista Sigmund Freud, se propagou sendo popularmente confundida com a própria Psicologia, já que foi a protagonista da difusão desta.      
O Psicanalista é uma pessoa com formação em Psicologia ou Medicina que optou pela vertente da Psicanálise, ou seja, que tem uma visão de homem se pautando nos pressupostos teóricos elaborados primordialmente por Freud.      
A psicanálise revolucionou o mundo com a descoberta do inconsciente, uma instância psíquica que rege a sobrevivência humana. Todas as ações adotadas são permeadas por aspectos que nem sempre estão claros na nossa consciência, mas que estão muito vivos em nosso ser.      
Embasada no determinismo psíquico, sem negar que este é permeado por aspectos subjetivos, concebe cada pessoa como um ser único, singular, ímpar, que possui um histórico de vida particular que contribuiu para ele ser o que é e agir como age, ou seja, há um nexo causal na constituição subjetiva. A compreensão deste sujeito parte de sua estruturação psíquica (neurótica, psicótica ou perversa) e da maneira subjetiva que esta se manifesta em determinados casos.      
As patologias, a partir disso, terão a possibilidade de cura através da palavra, o tratamento é embasado na fala, técnica denominada “Associação livre”. Nesta, o paciente inicia falando de maneira desobstruída tudo que lhe vier à mente para que, com o evoluir do tratamento, consiga fazer as conexões necessárias entre seus conteúdos e possa então, com a ajuda do terapeuta, “recordar, repetir e elaborar”.       
Claude Lévi-Strauss, que não é Psicólogo, nem Psicanalista e sim Filósofo e Antropólogo, em sua reverberação diz que "o sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é o que formula as verdadeiras perguntas". Esta colocação do autor captou a essência da Psicanálise. E pra concluir a linha de raciocínio faz-se necessário citar juntamente Lacan que afirma que “a arte do bem falar vem do bem ouvir”.  Esta é a função tanto do Psicólogo quanto do Psicanalista. 
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 14-07-2012.
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)


O AMOR FALADO E O AMOR EFETIVADO


“Falar de amor não é amar não é querer ninguém, falar de amor não é amar alguém” citação de letra de música da banda Capital Inicial, intitulada com a primeira parte da frase, muito tem a contribuir para o movimento amoroso contemporâneo. Palavras românticas tomam conta do cenário da telecomunicação Mundial. Músicas, filmes, novelas e mais uma infinidade de marketing do “falar de amor”. Apenas do falar mesmo, porque o amor em sua essência não é compreendido como esta sendo impresso, tendo em vista que é uma composição de atos e não de palavras.
Vi uma frase recentemente cuja autoria desconheço, dizia “eu quero é atitudes, se eu quisesse palavras eu comprava um dicionário” e esta me marcou de tal forma que achei mais do que pertinente abordar o assunto e alertar sobre a banalização do amor.
O “Eu te amo” se tornou uma frase vulgar, comum, medíocre dita a várias pessoas ao longo da vida, com quem se relaciona por um curto período de tempo, sem que se reflita sobre seu verdadeiro sentindo. Uns dizem esta frase por ser a mais prática para expressar pra alguém que tem um sentimento por ele, não que seja necessariamente o amor este sentimento. Outros falam consciente de que não amam de fato, mas acham pertinente mentir para o outro. E por fim, tem os seres extraordinários que falam que amam com o uso adequado da frase, ou seja, a quem se destine realmente o sentido desta.
Existem tantas palavras no vocabulário. Qual seria essa escolha de dizer eu te amo mesmo sem amar? Talvez seja a necessidade humana do amor que esteja se manifestando por lapsos de língua.
As pessoas necessitam de amor, buscam amor tanto que chegam a o enxergar até onde não existe. A ânsia por amar e ser amado é tanta que diante a qualquer gostar logo o querem transformar em amor. Mas não tem como, porque o amor é um sentimento não uma decisão. Se você fingir amar algo que você não ama, cedo ou tarde seus atos discriminarão a verdade.
Falar de amor é fácil, difícil é amar! Amar é você querer o bem da pessoa amada acima do tipo de relacionamento que você venha a ter com ela. No livro Bíblico de Coríntios dá-se a plena definição do que é o amor de verdade, que é paciente, benigno, não arde em ciúmes, não se exaspera, não desconfia, não se ensoberbece, não se conduz erroneamente, não se irrita, não é interesseiro, e no Versículo sétimo diz que: “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Isso parece utópico, mas não é. Em quem ama efetivamente isto brota naturalmente. Este resto, que chamo de amor falado não passa de um simples gostar de alguém, permeado pelo egocentrismo e amor próprio que necessita do outro pra satisfazer as necessidades narcísicas subjetivas de sentir-se querido ou sentir-se pertencente a uma relação de amor, mesmo que o fruto essencial desta relação, como o próprio nome diz “de amor”, não exista. Esse “lero-lero” de amar várias pessoas seguidamente em nada tem a ver com o sentimento denominado amor, tem mais a ver com mesquinharia e falta de caráter para assumir os verdadeiros sentimentos.
Palavras não provam a existência de algo, mas concretude sim. Se um “eu te amo” for dito com veracidade ele não vai durar poucos meses, se pouco durou é porque ele não passou de um simples “fui com sua cara temporariamente”.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070

Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 23-06-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)


NINGUÉM É FELIZ SOZINHO


Nunca se falou tanto em divórcio quanto nos últimos tempos, parece que quanto mais se passam os anos, mais se banalizam os relacionamentos conjugais. Casar e se divorciar se tornou algo rotineiro, simples, natural, trivial, comum entre a sociedade, principalmente ocidental.
As pessoas não desistem de encontrar um grande amor, mas desistem de preservar um amor nos primeiros obstáculos que surgem, achando que não merecem passar por frustrações e que pelo fato de o companheiro ter feito algo desagradável não ser digno de seus sentimentos, apontando-o como um vilão. E assim, muitos supostos vilões vão passando pela vida.
 “Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho” disse Tom Jobim, renomado representante da Música popular Brasileira e um dos criadores da Bossa Nova. Essa frase explica a incessante e desesperadora busca por companhia.
            As pessoas querem aparentar de toda a maneira que não precisam de ninguém, querem se bastar, ser autossuficiente achando que este é o caminho da felicidade, mas como em um ato falho deixam manifestar comportamentos que contradizem isto. O número de festas, baladas, redes sociais que rebentam continuamente no circuito social não deixa encoberta a necessidade do ser humano de ter companhia. Todo mundo busca, de uma maneira ou de outra, esquivar-se da solidão.
É muito discrepante as palavras e as ações das pessoas. Às vezes sendo agressivas e desdenhando do amor, como se este fosse desnecessário, como se não o quisessem ter, como se fosse algo fútil, como se o amor próprio bastasse, mas em qualquer oportunidade que encontram de se relacionar amorosamente ficam torcendo para que dê certo e, se não dá, simplesmente agem como se estivessem doando uma roupa velha. Talvez o medo de sofrer que impeça o crescimento (inter) pessoal.
Necessitamos um do outro para viver, é uma lei universal e indiscutível, viver negando isso é um mecanismo de defesa, mas que não funciona com a tal finalidade porque apenas cria uma vida leviana.
            Não é vergonha precisar de alguém, não é vergonha amar, não é vergonha demonstrar sentimentos, não é vergonha se emocionar diante de coisas simples. Vergonha é negar as próprias necessidades, é viver de aparência, é se preocupar com o que os outros vão pensar e criar uma imagem em função disto. A mais profunda necessidade do ser humano é a de ser amado, e todos buscam isso por mais que o neguem e se digam não precisar de ninguém.
            O orgulho não proporciona nada de vantajoso, te priva da felicidade, te faz perder coisas boas, impede suas conquistas, breca seu crescimento. Humildade não é, nunca foi e nunca será sinônimo de pobreza, é sim sinal de riqueza espiritual, de soberania de caráter. Um pedido de perdão, o ato de assumir uma culpa, o dizer eu te amo, o correr atrás de um amigo ou um amor só te faz ganhar coisas que você poderia ter perdido caso preferisse enaltecer seu ego.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070

Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 19-05-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

FELICIDADE: SORTE OU MÉRITO?


        A palavra felicidade é oriunda do latim felicitas e tem como significado prosperidade, fortuna, satisfação. Por muito tempo poetas e romancistas aludem à denominação "ser feliz" deixando um enigma nesta colocação, que deve ser reinterpretada a cada geração. No mundo Ocidental, no campo da Psicologia, a felicidade foi submetida a estudos comportamentais com intuito de poder ser mensurada e, somente no século XX, com a difusão da Psicologia social, a felicidade começou a ser enxergada através de fatores singulares de cada sujeito como satisfação pessoal, afetividade, emoção positiva e qualidade de vida.
Felicidade com frequência é um termo usado para definir a condição mais almejada de plena realização na vida de uma pessoa. Não tendo uma abrangência de significação exata, já que satisfação é um quesito subjetivo, faz referência a um estado de bem estar e alegria com a vida que se esta vivendo. É contabilizada por vários eixos da existência: pelo caráter afetivo, familiar, financeiro, de saúde física e mental, realização pessoal, profissional, ou seja, aquilo que tem valor e faz sentido na vida da pessoa e certamente mudarão com o passar do tempo; já que os objetivos tendem a mudar e os fatores considerados desejáveis também.
      Não há como determinar a medida de felicidade de algo já que, como expresso no parágrafo anterior, esta é integrada para cada pessoa de maneira diferenciada contendo importâncias individuais. Tem muito mais a ver com o que a pessoa cria em sua vida do que com o mundo lhe oferece. Felicidade não se busca, não se ganha, não se acha, se inventa, se constrói, se arquiteta. Há que se criar e se responsabilizar por esta invenção.
Em uma participação no programa “Dois a um” do SBT o Psiquiatra e Psicanalista Jorge Forbes diz que “a felicidade não é para os covardes”, explicitando que os covardes afirmam serem felizes se pautando num postulado de felicidade imposto pela sociedade e não o que eles realmente julgam ser o melhor para si. Ser feliz de verdade implica em ter coragem de constituir a própria felicidade.
É ilusão acreditar que felicidade é um estado de completude, porque nunca vai ser tudo como se quer, até porque a volição alterna de objeto o tempo todo. Sempre vai ter algo que está faltando, pois o ser humano é um ser faltante, como já afirma a Psicanálise. Podemos possuir coisas desejáveis, mas concomitante possuímos coisas indesejáveis, e este é a controvérsia do existir. O desejar que é prazeroso, não necessariamente o ter.
Tem gente que julga a felicidade pelo saldo bancário, pelo estado de saúde, pela aparência física, pela religiosidade, por fazer o que se gosta e ter o que se quer, isso é uma questão de opinião. A condição de felicidade trata-se bem mais da forma como o indivíduo se posiciona frente às novas formas de adversidades que a idade lhes impõe do que as situações que realmente vivencia.
Tudo precisa de adaptações e é natural que se sinta infeliz em algumas eventualidades do cotidiano, mas a vida não se remete a isto. Felicidade significa ser resiliente e se envolver consigo mesmo no sentido de buscar fazer-se feliz e não esperar que “caia tudo do céu”, como no dito popular.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 12-05-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)


DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS


Averiguando a história sabe-se que a doença, em tempos primórdios, era concebida como castigo divino. Logo, vem Hipócrates dizendo que as doenças se originam dos conflitos psíquicos, que há uma relação simultânea entre corpo e espírito, e descreve que as doenças orgânicas são influenciadas por problemas psíquicos, em geral, inconscientes. No ano de 1818 Heinholt introduz o termo, que tinha como intenção classificar sintomas, sinais clínicos e doenças descritas como mentais. Assim, qualquer patologia que tivesse manifestação física e que fosse de origem mental seria denominada psicossomática.
A palavra psicossomática é derivada de psique (mente) e soma (corpo). Atualmente a psicossomática é designada como uma vertente da ciência que aborda e trata as questões humanas, buscando promover saúde tanto orgânica quanto psíquica e social.
Por entender o ser humano com uma visão integrada, de unicidade entre mente e corpo, há autores que afirmam que toda doença pode ser considerada psicossomática, uma vez que o soma e a psique do sujeito são inseparáveis, indissociáveis. Mas só é diagnosticado como tal, quando há uma doença orgânica a qual não possui um histórico condizente com a mesma, levando-se assim a considerar os aspectos emocionais e subjetivos.
O corpo, sendo a estrutura física do sujeito é, portanto, o lugar de vida e também de morte. Tudo que é interpretado das experiências vividas vai repercutir de alguma maneira na esfera física do sujeito em sua totalidade.
Quando há sofrimento psíquico com o qual a pessoa não encontra um escape ou até mesmo não tem condições de lidar com ele, vai se acumulando e o corpo tende a somatizar. Se a pessoa não expressa, o organismo terá que encontrar uma maneira de manifestar. Angústias não externalizadas ficam no corpo e acabam afetando algum órgão, ou vários. Tanto o mental é influenciado pelo físico quanto vice versa.
Bronquite, asma, gastrite, úlcera, enxaqueca, depressão, dermatites, anorexia, obesidade, pressão alta ou baixa, impotência sexual, frigidez, fibromialgia, dores musculares, dependência química, são alguns exemplos de danos à saúde que podem ter sua origem em motivos psíquicos.
Uma manifestação física interfere em toda a imagem corporal que se construiu até o presente momento da vida e geralmente demanda de uma nova estruturação da maneira de viver. Pode haver casos em que a doença se manifesta como um mecanismo de defesa em relação à uma realidade insuportável, assim a pessoa consegue evitar, fugir, se esquivar de situações desprazerosas. Não que a pessoa aja de má-fé, mas o organismo tenta inconscientemente se defender.
O fato de a enfermidade ser de origem mental é indispensável o acompanhamento clínico, tendo em vista que os sintomas não são inventados, se tornaram biológicos e são causadores de intensos sofrimento a quem o vivencia. Sendo detectado que não há uma causa orgânica, as questões psicológicas devem ser tratadas juntamente com as físicas, para que sejam amenizados ou findados os sintomas, e também para que se evitem sequelas futuras.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08\17070
Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 31-03-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

FÉ E OS MISTÉRIOS DA MENTE




“A fé move montanhas”, diz um versículo Bíblico. Mas o que está por trás desta postulação fugaz?
Fenômeno que mescla valores culturais com crença e experiências singulares, a fé faz com que as pessoas adotem determinados comportamentos e estilo de vida de acordo com a crença que possuem, ou melhor, com o que acreditam que seja o correto.
            Fazendo uma breve análise do fenômeno cura, por exemplo, percebe-se que tem sido alcançado por inúmeras denominações de credulidade. Vê-se pessoas sendo curadas de várias maneiras: através de igrejas, guias espirituais, médicos, remédios (mesmo que placebos), chás, banhos, tratamentos, hipnose, técnicas religiosas, terapias, promessas, simpatias, além de mais uma infinidade de métodos. O que estas variadas formas de se curar ou de alcançar qualquer outra coisa almejada tem em comum é indubitavelmente a fé.
            Pessoas falam em quarta dimensão, magnetismo, poder da mente, ocultismo, ciência, religião, quociente de inteligência, outras mais espiritualizadas afirmam existir um dom concedido por uma divindade, um milagre, uma alma evoluída e assim por diante, mas ainda pode ser chamado por fé, crença, no sendo comum. Não deixa de ser o mesmo fenômeno, apenas com nomes diferentes.
            Cientistas comprovam que a mente possui uma intensa força criativa com faculdade de jamais repousar, está sempre em atividade, consciente ou inconscientemente, formulando ideias acerca do que vivenciamos, imaginamos viver e o que sentimos em relação a isto tudo. Sendo assim, integra uma noção de como está nossa situação em relação ao mundo circundante.
            Sentimentos, pensamentos, intuições, crenças e experiências anteriores, fazem parte do conjunto de componentes que influenciam a atividade mental e sempre vão ser manifestos na vida cotidiana.
            Uma pessoa que volta várias vezes para conferir se fechou a porta ao sair é diagnosticada como obsessiva, mas uma pessoa que faz o sinal da cruz toda vez que passa em frente a uma igreja dificilmente é olhado com estranheza. Uma pessoa que diz ser Adolf Hitler é considerada insana, mas num centro espírita vão dizer que reencarnou. Uma pessoa que enxerga gente que ninguém vê é psicótica, mas pessoas veem supostos seres extraterrestres e é chamado de ciência. Isto é apenas uma noção de como a questão de credulidade influencia uma nação.
      Há grupos, instituições, seitas, religiões, que apresentam fenômenos idênticos nomeados diferentemente, porém é comum uma desconsiderar a outra. Fica evidente que estes fenômenos são independentes da prática religiosa em si, acontecem com pessoas discrepantemente diferentes e oscila dependendo da cultura e da subjetividade, resumindo, não é nada além da crença.
“O poder está em sua cabeça” dizia um artigo com o qual tive contato. Parece uma colocação um tanto pretensiosa por responsabilizar cada pessoa por seus infortúnios, mas juntamente responsabiliza pelas conquistas. Pessoas transformam o mundo, inventam coisas que outrora foram consideradas impossíveis, constroem impérios e estabelecem o mundo através de sua consciência criativa. Não há como negar que a mente humana, muitos mistérios tem a ocultar.
  Joseph Murphy, divulgador de ciências mentais exclama “Pense o bem, e o bem virá. Pense o mal, e o mal virá. Você é o que pensa ao longo do dia”.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070

Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 17-03-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

EU REAL X EU IDEAL


A construção da estrutura psíquica é pautada em fatores imaginários, simbólicos, além do real. Isto posto, fica indiscutível o fato de que as fantasias muito contribuem para a constituição do sujeito como pessoa. A integração da personalidade sempre será permeada pelo eu, que diz respeito à realidade e juntamente pelas ideias de ideal do eu, que normalmente é o eu que se almeja, se quer, se intenciona ser.
O ‘eu real’ corresponde a o que o indivíduo realmente é, com qualidades e imperfeições. Esta noção realista do eu produz prazer. O indivíduo vivencia expectativas limitadas à sua capacidade e se esforça para atingir seus ideais. Já o ‘eu ideal’, vive em função de ideias improváveis de ser alcançadas, pois tem uma visão irreal de si mesmo, diz respeito a como o sujeito é em sua fantasia, como gostaria de ser e como luta para ser. Só que este ‘eu ideal’ implica em perfeição, a qual a pessoa nunca consegue atingir.
Vive-se intensa atividade mental em busca de ser o que não se é. Idealiza-se um postulado de perfeição e as pessoas se gastam em busca de conquistá-lo. As metas de vida são cada vez mais elevadas causando frustração diante da impossibilidade de atingi-las. O sujeito cria uma expectativa tão distante do real que passa a exigir demais de si mesmo, se idealiza tanto que nem ele mesmo consegue corresponder a este ser que idealizou. Desta forma, nunca está bom e nada é suficiente, pois o patamar fantasiado é exacerbadamente incongruente com as possibilidades da pessoa no momento.
Ter projetos é extremamente saudável e necessário para progredir em todos os âmbitos da existência, o patológico é quando se foge da realidade. Quem idealiza fica em busca de algo que para ele existe em algum lugar, em alguma coisa ou em alguma pessoa. Deixa-se de viver as possibilidades reais do aqui e agora, projetando a felicidade em pessoas ou coisas. Tem quem se sente tão mal consigo mesmo que não dá conta, não suporta a vida real, daí cria uma imagem ideal de ser. Mas este ideal fica apenas em nível de pensamento, fantasia, não é possível se tornar concreto.
Quanto mais é buscada a perfeição, maior será o número de exigências e consequentemente aumentará a probabilidade de os planos não saírem exatamente como o planejado. É aquela típica história: “eu queria tanto que quando consegui perdeu a graça, porque não era exatamente como eu pensei que seria”. Quem tenta modificar o tempo todo o outro e a si mesmo só se frustra, vive cada vez mais em conflito.
Tem gente que nem consegue mais distinguir o que é ela mesma e o que é sintético. Tudo é comprado, o peito que não se têm, o cabelo que não se têm, o prazer que não se têm. A felicidade está sendo posta como algo exterior às pessoas, e não no eu real delas. A idealização do eu é enaltecida através da “compras em massa de felicidade”. Hoje, a felicidade esta no carro que as pessoas têm, na casa que elas moram, na roupa que elas usam, nas marcas que elas exibem, ou seja, no que elas podem ostentar ao invés do que são.
       A necessidade de tratamento se faz a partir do momento que o sofrimento proporcionado pela insatisfação com o que se é (eu real) torna-se tão grande que, mesmo diante de inúmeros métodos, técnicas, cirurgias, compras, mudanças (eu ideal), a frustração não se sacia ou aumenta, tornando a pessoa dependente de “coisas” para ter alegria. Caso chegue a este ponto, a psicoterapia é indispensável.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070

Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 10-03-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

CRIANÇAS MIMADAS, PESSOAS FRUSTRADAS


Com o passar dos anos a liberdade infantil tem progressivamente instigada e aceita dentro dos lares. Não está nítido se este movimento é mais incentivado de fora (sociedade) para dentro (lar), ou se os próprios pais acabam por dar para as crianças tamanha liberdade por algum motivo subjetivo, como proporcionar aos filhos o que não tiveram em sua infância, acreditarem que no mundo moderno deve ser assim ou mais inúmeros fatores. O que não dá para esquecer é que a mídia tem fomentado a ideia de que criança para ser feliz tem que “poder tudo”.
Crianças choram no mercado por querer um doce e com a atitude escandalosa que aderem percebem conseguir o que querem. Como dizem os comportamentalistas, o comportamento reforçado tende a ser mantido e acoplado ao repertório comportamental. Se uma postura não educada me assegura a conquista do desejado, normalmente a expressarei quando quiser algo. E assim a má-criação tem se tornado um movimento de massa.
Em um documentário contemporâneo intitulado “Criança: a alma do negócio” é abordado o comportamento consumista infantil, e deixa transparecer a imagem dos pais como meros fantoches na mão de uma criança (pessoa em construção), sem voz ativa, sendo manipulados sob um marasmo de “pseudo-naturalidade”. Não percebem o absurdo de um ser em constituição tendo poder sobre um outro ser que já se estabeleceu enquanto pessoa. Quem deve ser educado afinal, pais ou filhos?
Se uma criança nunca é frustrada ou nunca ouve um não, o sofrimento por qual passará ao ouvir no futuro será demasiadamente mais acentuado do que uma criança que tem limites. Se os pais não colocam limites, o mundo coloca. Isto é inevitável, certeiro, não há como fugir desta realidade. Podem existir os pais na infância para satisfaz todas as vontades dos filhos ou não impor restrições, mas na adultez nem todo mundo vai viver para satisfazê-lo e, se não se está acostumado com nãos, terá que se aprender a lidar com eles mais tarde de maneiras bem mais dolorosas.
Hoje se vê meninas querendo se matar porque foram largadas por namoradinhos, acostumadas a ter tudo o que querem não suportam ouvir um não. Jovens se destroem constantemente devido ao abuso de substâncias psicoativas. Por que uma pessoa precisa ir lá e tomar todas as bebidas que conseguir? Tomar uma bebida é uma coisa, outra bem diferente é se entupir de álcool e drogas até a morte. Qual é essa necessidade?
Aí está, é o tal limite que todos precisam, buscam e necessitam, e se em casa elas não têm, o externo providenciará. Nem que o limite seja uma morte por overdoses, por acidentes devido à embriaguez, uma gravidez na adolescência, uma doença venérea, um suicídio, etc. Matando e morrendo as pessoas imploram ao universo o freio que não tiveram em casa.
Parafraseando immanuel Kant “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070



Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 25-02-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

HIPNOSE CLÍNICA


Hipnose. Termo originário da união das palavras hipnos-gnose, com sua vertente em “hypnos” que significa sono, advindo de um deus grego com este nome. Denominação cunhada pelo médico James Braid, assim se deu devido ao estado de transe ser demasiadamente semelhante ao estado de sonolência. Embora a denominação seja equivocada, tendo em vista que não se dorme durante o transe hipnótico, a nomenclatura se difundiu e não mais houve possibilidade de modificá-la.
Sempre vinculada à busca de cura, a hipnose ganha espaço com a primeira e segunda Guerra Mundial devido ao cenário traumático do pós-guerra e das patologias emergentes na época, sendo usada como tratamento.
Há vários mitos que permeiam o fenômeno hipnose, entre eles, de que a hipnose é causada por poderes sobrenaturais do hipnotizador, que a pessoa dorme ou fica inconsciente, que o hipnotizador controla totalmente a pessoa, e coisas de gênero. Tais postulações são inverídicas. A pessoa hipnotizada não vai fazer nada que seu senso crítico e sua moral não permitirem, não vai dormir muito menos perder a consciência, não vai revelar segredos nem ser dominada pelo hipnotista. Salientando que o transe ocorre na linha delimitadora entre o sono e a vigília.
No decorrer do dia-a-dia entra-se em transe espontaneamente por várias vezes sem que nos demos conta disso. Quando estamos lendo um livro e nos perdemos nas nossas divagações mentais; quando, assistindo televisão, nos concentramos tanto na programação que nem ouvimos quando alguém nos chama; quando, durante uma conversa, não prestamos atenção no assunto, pois estamos pensando em outra coisa; quando fantasiamos ou “sonhamos acordado”, etc.
Sendo definido como um estado alterado da consciência, o transe hipnótico se dá por via de concentração direcionada a um estímulo que se apresenta monótona e repetitivamente, podendo ser ele auditivo, visual ou olfativo.
Juntamente com a hipnose há a o uso de sugestões, que tem um poder de convencimento incomparável. Percebe-se isto na publicidade que, através de anúncios e propagandas, direciona o comportamento das pessoas. Como diz Benomy Silberfarb “o convencimento é a palavra de ordem no mundo das atividades comerciais. Não deixa de ser um hipnotismo comercial e publicitário”. Ou seja, somos hipnotizados o tempo todo.
Na hipnose clínica, estando a pessoa em transe, o hipnoterapeuta vai então utilizar-se de sugestões terapêuticas visando eliminar os sintomas apresentados pelo paciente. As sugestões têm um papel fundamental, pois é direcionada justamente para a queixa que a pessoa trouxe. Enquanto a psicoterapia trabalha o conflito para que o sintoma vá se desfazendo juntamente com ele, na hipnose clínica faz-se o sentido inverso, extingue o sintoma primeiramente, porque é ele que causa o sofrimento do paciente, e depois trabalha-se o conflito que originou este sintoma. Assim os resultados são mais rápidos e promissores.
Entre as indicações da hipnose como tratamento pode-se destacar obesidade, anorexia, ansiedade, fobias, estresse, traumas, parar de roer unha, de fumar, além de ser útil para exacerbar características desejáveis como atenção, autoestima, bem estar, inteligência, controle emocional, autoconfiança, tranquilidade, felicidade, enfim, tem uma abrangência de atuação vasta para promover curas e qualidade de vida.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070

Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 18-02-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

O QUE DIZ A PSICANÁLISE SOBRE O AMOR


A partir dos pressupostos psicanalíticos, as vinculações afetivas têm sua origem no primeiro ano de vida quando se precisa do outro para que as necessidades fundamentais sejam supridas.
Freud, no decorrer de suas obras, propõe que existem instâncias psíquicas que regem a sobrevivência do sujeito. A primeira é denominada instinto e se caracteriza pela busca da satisfação de necessidades básicas fisiológicas, como alimentação. A outra, chamada pulsão, tem a função de buscar também maneiras de satisfação, mas não fisiológicas, busca satisfazer as necessidades subjetivas do indivíduo, o desejo, o querer. A pulsão se manifesta quando a criança começa a perceber que a mãe não é uma extensão de si mesma e se percebe como um ser separado, ela sente a falta da mãe quando ela não esta ali. Na relação com a presença e ausência da mãe que ocorre a estruturação psíquica, a maneira como a falta é experienciada psiquicamente definirá se o sujeito será neurótico, psicótico ou perverso. O neurótico sente a falta e sofre com ela, o psicótico foraclui a falta, já o perverso nega a falta. Percebe-se então que a busca amorosa é típica da estrutura neurótica.
Esta maneira de lidar com o objeto amado na infância se repetirá ao longo da vida. Ttoda a vez que a pessoa se relacionar com alguém na idade adulta vai manifestar os mesmos padrões daquele primeiro contato que teve com seu primeiro objeto de afeto, no caso, a mãe.
A escolha do objeto de amor pode se dar de duas formas básicas: narcísica ou anaclítica. Narcísica é quando o amor volta-se pra si mesmo, já a anaclítica é quando o objeto de amor é visto como o outro, ou seja, aquele que supre suas necessidades com alimentação, carinho, proteção.
Em ambas as maneiras fica evidenciado que é prazer o que regula os eventos mentais. Cada pessoa busca, mesmo que inconscientemente, a redução de tensão ou produção de prazer através de seus relacionamentos amorosos.
A obtenção de prazer se dá através da catexia, ou seja, movimento de direcionar a libido em algo. A libido é a energia sexual a qual se emprega para a satisfação de prazeres. O vínculo de amor é entendido como o investimento libidinal em algum objeto ou pessoa. Ao longo da vida esses objetos vão mudando conforme o nível de satisfação que proporcionam. Não se ama o objeto que se diz amar, ama-se o prazer que ele implica. O amor é satisfação de prazer.
O desejo e o amor podem ser descrito como formas de o sujeito retomar a satisfação que um dia teve, ou imagina ter tido. Mas a satisfação nunca é e nunca será completa, pois o âmago do ser humano constitui-se pela falta originada na “separação”, ou lançamento ao mundo.
Eric Fromm diz que “A mais profunda necessidade do homem, assim, é a necessidade de superar sua separação, de deixar a prisão em que esta só”. Por isso há a necessidade de se relacionar e juntamente a insatisfação ao constatar que nenhum relacionamento pode suprir esta falta.
O amor só pode ser concreto, então, com a aceitação de sua impossibilidade de plenitude. O amor não tem a potencialidade de suprir a solidão diante do mundo ou de completar uma pessoa, apenas de lhe proporcionar mais prazer. Enquanto implicar em ganhos, mesmo que secundários, ele permanece, sem ganhos ele se extinguirá.
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08/17070

Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 11-02-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

A HIÂNCIA ENTRE QUERER E DESEJAR


A relação entre querer e desejar nada diferente é do que o clássico e explorado paradoxo entre razão e emoção. Se por um lado a lógica permeia todos os comportamentos manifestos, não se deve esquecer que estes estão a mercê de vontades intrínsecas e subjetivas de cada ser humano.
O desejo é definido como aquela vontade arrebatadora, com reação orgânica, que te incita a algo inexplicavelmente, por ser permeado pela emoção. Se quer algo visando apenas o que ele pode propiciar de prazer. Metaforicamente pode-se dizer que, como um ímã se atrai pelo metal, o desejo se fixa por um objeto de volição.
Já o querer é bem mais complexo. Querer é uma escolha, que nada tem a ver com desejar. O que as pessoas querem está pautado em uma opção refletida a um prazo mais extenso, se foca um resultado com este querer, visa intenções secundárias que proporcionarão ganhos em vários âmbitos da vida. Diferente do desejar, que apenas busca obtenção do prazer imediato e redução de tensões, onde pouco ou nada se leva em consideração projetos futuros.
As pessoas querem emagrecer, mas desejam continuar comendo. Querem ter saúde, mas têm desejos por hábitos que não são saudáveis. Querem fidelidade, mas muitas vezes desejam o companheiro alheio. Querem paz, mas desejam agredir qualquer pessoa que lhes desagradem. Querem salvar o meio ambiente, mas desejam facilidades cotidianas que destroem o mesmo. Querem um país culto, mas preterem o estudo em relação ao lazer, que é o desejado. Querem igualdade social, mas desejam a riqueza. Por estes e mais inúmeros exemplos, a gestão entre o querer e o desejar em uma pessoa é bastante conflitante. Se por um lado sabe-se que algo é o melhor, correto, vantajoso, para conseguir isto teria que sacrificar o magnífico, poderoso, prazeroso “desejo”.
Olhando por esta ótica o desejo até parece um vilão. Será que o é? Não existe certo ou errado nos postulados, apenas abre margem para um debate mental. Vale à pena sacrificar determinados projetos em prol de um querer momentâneo? A resposta é subjetiva de cada leitor, pois somente a própria pessoa tem suas razões e significações. Como disse Caetano Veloso: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, ou melhor, seria saber a dor e a delícia do que se escolhe ser?
Recentemente em uma livraria avistei um livro intitulado “Você quer o que deseja?”, não me lembro o autor, mas este título me instigou a imaginação e incitou a construção da presente reflexão.  Muitas vezes, o que uma pessoa menos quer para sua vida é o que ela mais deseja. Só resta uma dica: cuidados com seus desejos, eles podem ser inimigos do teu querer!
Psicóloga Katree Zuanazzi
CRP 08\17070


Publicado no Jornal de Notícias "A Folha de Saltinho" dia 28-01-2012
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)